Por Tiago Florentino
“Random Access
Memories" é uma crítica ao cenário eletrônico atual, feita de maneira
graciosa e inovadora. Sem ataques gratuitos ou entrevistas polêmicas,
Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter pedem pela humanização da música
misturando instrumentos
reais a sintetizadores para construir uma aura retrô e ao mesmo tempo
futuristas. Em 13 faixas propõem uma revisão, inspirada
nos anos 1970 e 1980, da era robotizada.
A intenção dos “robôs” fica clara logo na
primeira faixa do álbum “Get life back to the music” que
ironicamente pede a humanização da música eletrônica e a diminuição de barulhos com a sonoridade
orgânica, que é a tônica de todo o álbum, a guitarra marcante de Nile Rodgers (Madonna
e David Bowie), é o principal elemento. Com isso, no entanto, não significa que o
eletrônico não está presente. Ele está, mas unindo o talento de músicos e
cantores. Desde a pré-produção do disco, essa preocupação com uma sonoridade
mais humana se fez presente.
Épica, “Giorgio By Moroder” é
incrivelmente cinematográfica e traz a voz do próprio Giorgio Moroder um dos
pioneiros da música eletrônica, é tudo o que promete a parceria estelar. A música de
diversas partes funciona como uma história e não um exercício aleatório. O
teclado principal, que vem logo no começo, tem levada de trance. E isso faz
sentido, já que esse subgênero eletrônico é descendente direto do pulso
arpejado de “I Feel Love”. A bateria no fim, solta, repicada, ultra-groovada, é
um sério argumento em favor da volta da batida “orgânica” na dance music.

Hoje,
smartphone na mão e em breve, Google Glass todo mundo já anda por aí meio
cyborg, meio robô. Aparelhos viraram extensões do corpo e da mente. Por quanto
tempo você aguenta ficar sem internet? Bleeps e pings nos acompanham da
primeira à última hora. Nossas vidas estão digitalizadas.
Em Random Access Memories, o robótico de ontem virou o humanizado de hoje. O futurismo virou nostalgia e o que era inovador é reinventado como tática de reação conservadora.
Em Random Access Memories, o robótico de ontem virou o humanizado de hoje. O futurismo virou nostalgia e o que era inovador é reinventado como tática de reação conservadora.
São
as contradições do disco, sim, mas é também o segredo de seu charme.
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