quinta-feira, 20 de junho de 2013

Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões

                                                                                                              
                                                                                               Por Rúbia Martins Oliveira

Atualmente, além da faculdade de jornalismo, sou aluna da graduação em Teatro pela UNB UAB – Polo Ipatinga. Recentemente, como atividade da disciplina de História do Teatro do Brasil, tive a oportunidade de ler o artigo “Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões”, de Abdias do Nascimento. Nessa leitura, percebi o quanto a comunicação social ainda é falha no que se refere à questão dos negros no nosso país e acredito que o artigo possa trazer boas contribuições aos comunicadores sociais que forem abordar tal temática.

Neste artigo, Abdias do Nascimento, artista negro, relata sua luta em prol da valorização do negro e suas origens, como parte importante da arte e cultura popular brasileira. De acordo com seu texto, Nascimento inicia sua reflexão e questionamentos da temática abordada quando assiste a tragédia de Eugene O’Neill, O Imperador, na capital do Peru, e o papel do negro herói é representado por um ator branco tingido de preto. Impactado com a peça e com esse fato discriminatório, em que se preferia “a exclusão do negro autêntico em favor do negro caricatural”, Nascimento, em sua análise, percebe que “intérprete negro só se utilizava para imprimir certa cor local ao cenário, em papéis ridículos, brejeiros e de conotações pejorativas”. (NASCIMENTO, p 209)
           
 Impactado com a situação descrita e fortemente incomodado com as questões que se sucederam, o autor deste artigo, sente que dependia dele uma “resolução no sentido de fazer alguma coisa para ajudar a erradicar o absurdo que isso significava para o negro e os prejuízos de ordem cultural para o seu país”. (NASCIMENTO, p 210)  E foi engajado nesses propósitos que, em 1944, Abdias do Nascimento fez surgir no Rio de Janeiro o Teatro Experimental do Negro (TEN) com o objetivo de “resgatar, no Brasil, os valores da pessoa humana e da cultura negro-africana, degradados e negados por uma sociedade dominante (...). Propunha o TEN a trabalhar pela valorização social do negro através da educação, da cultura e da arte”. (NASCIMENTO, p 210) 
           
 O Teatro Experimental do Negro teve grande importância nas conquistas do negro em nosso país. Era uma escola de teatro, politizada, que fazia denúncias sociais, provocava o próprio negro a ter consciência de sua contribuição para cultura brasileira; teve o papel de alfabetização de muitos negros e de sua inserção na sociedade enquanto artista de valor.
            
No artigo, Nascimento descreve cada passo da trajetória do TEN, cada espetáculo, as dificuldades encontradas e enfrentadas.
            
De tão engajados em sua causa, o TEN teve críticas por certa exclusão às demais culturas. “O TEN ganhou dos porta-vozes da cultura convencional brasileira o rótulo de promotor de um racismo às avessas, fenômeno que invariável e erroneamente associavam ao discurso da negritude”. (NASCIMENTO, p 218) 
           
 No artigo são mencionadas diversas peças, com breves sinopses, que discursam sobre a questão do negro. As peças estão incluídas na antologia de teatro negro-brasileiro de Abdias do Nascimento, intitulada Dramas para negros e prólogo para brancos, edição do Teatro Experimental do Negro (1961).
            
Por fim, temos que o TEN cumpre com seus objetivos, uma vez que estabelece “o teatro, espelho e resumo da peripécia existencial humana, como um fórum de ideias, debates, propostas, e ação visando à transformação das estruturas de dominação, opressão e exploração raciais implícitas na sociedade brasileira dominante”. (NASCIMENTO, p 221)  O Teatro Experimental do Negro não combate o racismo que, infelizmente, ainda se encontra camuflado em nossa sociedade, mas consegue avançar muito, como relata o autor em sua conclusão, “O TEN atuou sem descanso como um fermento provocativo, uma aventura da experimentação criativa, propondo caminhos inéditos ao futuro do negro, ao desenvolvimento da cultura brasileira (...) O TEN se desdobrava em várias frentes: tanto denunciava as formas de racismo sutis e ostensivas, como resistia à opressão cultural da brancura”. (NASCIMENTO, p 223)
            
Um artigo que vale a pena ser apreciado por todo educador brasileiro e também por pesquisadores e comunicadores sociais que se interessam pela história e luta dos negros no Brasil.

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